Repressão em El Salvador leva ONG de direitos humanos a abandonar o país

A ONG Cristosal, que atua em El Salvador, anunciou que se exilará devido à crescente repressão do governo de Nayib Bukele contra defensores de direitos humanos. A decisão foi comunicada em uma coletiva de imprensa na Guatemala, onde a organização continuará suas operações. A medida é uma resposta ao assédio, espionagem e difamação que a ONG enfrenta, caracterizando a situação como uma "ditadura".

A crise se intensificou após a prisão da advogada Ruth López, chefe da unidade anticorrupção da Cristosal, em maio. Ela foi acusada de enriquecimento ilícito pela procuradoria, que é alinhada ao governo. A ONG já havia criticado a política de segurança de Bukele e, com a nova lei de "agentes estrangeiros", as ONGs enfrentam um imposto de 30% sobre os fundos recebidos, o que limita suas operações.

No comunicado, o diretor da Cristosal, Noah Bullock, afirmou que a organização se vê forçada a escolher entre a prisão ou o exílio. Ele destacou que a repressão e o fechamento de espaços democráticos tornaram El Salvador um ambiente hostil para a atuação de ONGs. A Cristosal, que já contava com cerca de trinta ativistas no país, considera que a nação "deixou de ser um Estado de direito".

Além disso, a ONG presta assistência a familiares de 252 venezuelanos deportados pelos Estados Unidos e presos em um megacárcere em El Salvador, o que a Cristosal classifica como um caso de "desaparecimento forçado". A situação de repressão também afeta jornalistas, com mais de 40 deles se exilando nos últimos meses, segundo a Associação de Jornalistas de El Salvador. A pesquisa da Universidade Centro-Americana revela que seis em cada dez salvadorenhos temem criticar o governo, evidenciando a atmosfera de medo instaurada pelo regime de Bukele.