Crise global se aproxima com escassez de vacinas, não de petróleo ou grãos

Recentemente, o Brasil anunciou uma parceria com a Biological E para a produção local da vacina pneumocócica PCV-14. O objetivo é aumentar a autonomia em saúde pública e reduzir custos no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa iniciativa surge em um contexto de crescente dependência tecnológica e produtiva, especialmente após a pandemia, que expôs a fragilidade das cadeias globais de suprimentos.

A dependência de vacinas e medicamentos importados é alarmante: mais de 90% das vacinas utilizadas na América Latina vêm de fora. Isso significa que muitos países da região não têm a capacidade de reagir de forma autônoma a emergências sanitárias. A próxima crise de saúde pode nos pegar despreparados, não por falta de recursos humanos, mas por falta de independência produtiva.

Diversificação como Estratégia

Diversificar fornecedores é uma estratégia essencial para garantir a segurança sanitária. Países do Sul Global, como o Brasil, têm buscado alternativas, como a Parceria para a Eliminação das Doenças Socialmente Determinadas, que foi discutida na última cúpula do Brics. A Índia tem se destacado no desenvolvimento de soluções acessíveis, oferecendo um modelo de cooperação que pode ser seguido por outras nações.

A parceria entre a Fiocruz e a Biological E é um passo importante. O acordo prevê a transferência integral de tecnologia para a produção da PCV-14 no Brasil. Isso permitirá que o país tenha domínio sobre a cadeia produtiva, reduzindo custos e aumentando a capacidade de resposta a surtos de doenças como pneumonia e meningite bacteriana.

Impacto Econômico e Social

Em 2024, o Brasil registrou 598 mil internações por pneumonia e 1.734 casos de meningite bacteriana, um aumento de 13% em relação ao ano anterior. A adoção da PCV-14 pode gerar uma economia de até R$ 1 bilhão para o SUS. Contudo, o verdadeiro ganho é a capacidade de reagir rapidamente a emergências sem depender de outros países.

O Brasil possui instituições de excelência, como a Fiocruz e o Instituto Butantan, e um sistema público robusto. No entanto, a verdadeira soberania em saúde requer não apenas parcerias, mas também soluções viáveis economicamente. A dependência em saúde não é apenas uma fragilidade; é um risco que pode ser mitigado por meio da diversificação e da autonomia produtiva.