- O livro Political Fictions: From the Middle Ages to the “Post-Truth” Present, de Patrick Boucheron, analisa como ficções políticas moldam o poder e a realidade política atual.
- Segundo o autor, ficções existem antes do tirano e do governante e ajudam a definir o presente; exemplos vão de Gesta Hungarorum a “The king is dead, long live the king”.
- Discute ainda a transubstanciação na teologia cristã como ficção política que contribuiu para o poder temporal da Igreja e a centralização papal.
- O volume relaciona Mussolini, Putin e Trump a esse repertório de ficções, e aponta Game of Thrones como antecipadora da era da pós-verdade.
- Por fim, sustenta que as ficções mais influentes hoje vêm de filmes e séries, e observa como a sátira passou a enfrentar limites na prática política.
Patrick Boucheron, historiador medieval francês, analisa como ficções políticas moldam o poder, indo além do tirano ou do governo. Em “Political Fictions: From the Middle Ages to the Post-Truth Present”, ele propõe que obras ficcionais precedem o Estado e o povo, influenciando o presente. O livro é uma transcrição de palestras de 2017 no Collège de France, inaugurando a discussão em torno do papel da imaginação na política atual.
A obra não foca apenas nos estilos retóricos de líderes, mas na função das ficções na construção da realidade. Dante, Game of Thrones e outros exemplos servem para mostrar como narrativas substituem verdades formais, influenciando decisões e legitimidade. O momento de 2017, com a posse de Donald Trump, é utilizado para discutir autoritarismo, demagogia e a relação entre ficção e poder.
Conceito central
Boucheron sustenta que ficções políticas existem antes do tirano e do governed, modelando o presente. Referências históricas incluem a Gesta Hungarorum, que transforma a ancestralidade húngara, e o ditado The king is dead, long live the king, que separa corpo do soberano da função. A transubstanciação, no rito da Eucaristia, é descrita como metáfora que se torna poder político.
Exemplos e desdobramentos
O autor analisa figuras modernas, como Mussolini, Putin e Trump, conectando-as a ficções que antecipam o pós-verdade. A série Game of Thrones é citada como precursor de uma visão política mais pragmática e moralmente ambígua, em contraste com mundos de fantasia freiriana. A inauguração de Trump é discutida ao lado de referências de cinema, como The Dark Knight Rises, para ilustrar paralelos entre imagem pública e poder.
Impacto histórico e futuro
Boucheron aponta que as ficções não desaparecem; podem se inverter e consumir as próprias origens. Estudos de Blumenberg sobre mito ajudam a entender como líderes replicam modelos do passado. Hoje, filmes e séries substituem obras, cenotáfos e pinturas como fontes de poder. O livro também provoca debate sobre os limites da sátira na política contemporânea.