- Crianças pequenas podem resistir a ir à escola, manifestando frases como “eu não quero ir” e birras.
- Essa resistência pode ter causas ligadas ao ambiente escolar, como dificuldades de aprendizagem, bullying ou mudanças na rotina.
- Fatores externos, como questões familiares e ansiedade, também podem influenciar a recusa à escola.
- Sinais de alerta incluem faltas frequentes, queixas físicas em dias de aula e mudanças de humor.
- Para incentivar a ida à escola, é importante estabelecer uma rotina previsível, validar emoções e manter comunicação com a escola para estratégias conjuntas.
Quando se convive com uma criança pequena, que está começando a ir à escola, é comum ouvir a famosa frase “eu não quero ir”, ou até mesmo observar alguns casos de birra ou insistência para ficar em casa. E isso é esperado: uma mudança drástica na vida das crianças, que antes apenas ficavam em casa e, pela primeira vez na vida, têm que se acostumar com uma rotina estabelecida durante a semana.
Por mais comum que seja para pais e filhos enfrentarem essa situação, é importante observar com atenção a resistência da criança, para identificar os motivos reais que a fazem não querer ir à escola. Esses motivos podem estar ligados tanto a questões familiares quanto a problemas no ambiente escolar, e compreendê-los é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança.
Quais os principais motivos de recusa à escola?
As questões centrais que podem levar uma criança a não querer ir à aula ou ao ambiente escolar podem ser divididas em duas partes: problemas dentro e fora da escola, como definiu o diretor nacional da Ensina Mais Turma da Mônica, José Júnior, em entrevista ao Portal Tela.
“Dentro da escola, isso pode englobar questões ligadas a dificuldades de aprendizagem sem suporte adequado; relações sociais conflituosas, como isolamento ou bullying; trocas de turma ou de professor; metodologias pouco engajadoras ou ritmo desajustado; e mudanças na rotina escolar, como novas regras, avaliações ou transição de segmento”, enfatiza José.
Já fora da escola, os problemas podem estar relacionados principalmente ao ambiente familiar e à convivência que a criança tem ali, podendo envolver questões de ansiedade, como mudanças no ambiente, por exemplo o nascimento de irmãos ou separação, além de expectativas e cobranças desalinhadas em casa, e ainda pontos mais fisiológicos, como rotina de sono inadequada, uso excessivo de telas e doenças.
Também é importante ter em mente quando começar a se preocupar com as faltas, pois ausências pontuais podem ocorrer em casos de visitas médicas ou compromissos familiares, mas deve-se prestar mais atenção quando há repetição por determinados fatores, como explica José.
“Os sinais de alerta aparecem quando há repetição por duas ou mais semanas, principalmente em dias de prova ou em determinadas aulas; queixas físicas recorrentes apenas nos dias de aula, como dor de cabeça ou de estômago sem causa clínica; queda de rendimento; perda de interesse por atividades que antes gostava; ou mudanças de humor, como ansiedade e irritação, ao se aproximar do horário escolar. Nesses casos, é importante investigar a resistência escolar e acionar a escola.”
Como mencionado anteriormente, o bullying é um dos motivos que podem levar ao desinteresse pelo ambiente escolar, e estar atento a possíveis sinais de sua ocorrência é importante, como diz José.
“Indícios comuns incluem objetos danificados ou perdidos, hematomas sem explicação, medo de determinados colegas ou lugares, queda brusca no rendimento escolar, distúrbios de sono e apetite e isolamento social.”
Como incentivar a ida a escola de forma saudável
O primeiro passo para reintegrar a rotina escolar de forma saudável no dia a dia da criança é identificar os motivos que levam ela a evitar a escola, mencionados anteriormente. Com isso, os responsáveis podem focar na causa específica e adotar estratégias que facilitem a retomada da rotina.
“Uma rotina previsível, com horários de sono, despertar, alimentação e saída de casa consistentes”, destaca Junior. “Os pais podem investir em pequenas metas e reforço positivo, valorizando cada ida à escola e cada aula concluída”, finaliza.
Outro ponto mencionado pelo diretor é a questão emocional, pois é importante entender o sentimento dos pequenos, mas sem reforçar a recusa à escola.
“O primeiro passo é validar a emoção, e não o escape, com frases como: ‘Eu vejo que você está ansioso(a). Vamos juntos enfrentar e, se ficar difícil, avise a professora’. Nomear e normalizar o que a criança sente ajuda na autorregulação emocional”, explica Júnior. “Também é recomendado ter conversas curtas e objetivas, acolhendo o sentimento: ‘Eu entendo que está difícil’, e reforçando a expectativa clara: ‘A escola é compromisso diário’.”
Além disso, é essencial cuidar da saúde física da criança e corrigir hábitos pouco saudáveis. Um exemplo é a higiene do sono, destacada por Junior, que recomenda evitar telas de uma a duas horas antes de dormir e garantir entre 9 e 11 horas de sono, conforme a idade.
Também é importante sempre insistir na frequência de ida à escola. Em casos pontuais, como sintomas, contágios ou indicações médicas, é aceitável deixar a criança em casa, porém José adverte sobre outros casos.
“É recomendado fazer o acolhimento e orientar a ida à escola quando há queixas inespecíficas, a frase ‘não quero ir’, algum medo sem risco real ou até mesmo em casos de provas ou atividades avaliativas.”
Além disso, o diretor recomenda ações preventivas antes ou no início da vida escolar, que ajudam a criança a ingressar no ambiente com menos vulnerabilidade aos problemas anteriormente mencionados.
“A alfabetização das emoções, ensinando a nomear sentimentos e pedir ajuda, é outro pilar importante”, destaca. “O acompanhamento pedagógico contínuo permite intervenções precoces diante de qualquer sinal de defasagem”, completa. “Por fim, cultivar o senso de pertencimento, valorizando os amigos, os professores e as conquistas do dia a dia, ajuda a criança a construir uma relação positiva com o ambiente escolar”, conclui.
A importância de estar sempre em contato com a escola
Estar sempre atento ao seu filho, por meio de conversas e observação de mudanças nos hábitos, é importante; porém, também é essencial criar uma ponte de comunicação com a escola para entender supostos problemas e pensar em estratégias que facilitem a adaptação da criança à rotina escolar de forma saudável.
“Firme uma parceria com a escola. Assim, é possível combinar estratégias conjuntas, como acolhida na chegada, monitorar intervalos e pensar em tarefas adaptadas”, reforça José.
Ter um canal de contato definido também é importante. Independente de ser por aplicativos de mensagem, e-mail ou outros, essa ponte serve para informar sobre possíveis problemas durante o dia da criança e também para alertar a própria escola sobre alguma incidência.
Reuniões curtas de no máximo 20 minutos também são indicadas justamente para pensar em estratégias para melhor adaptação da criança.
“Um plano conjunto, com metas simples, como ‘chegar sem choro’ ou ‘permanecer até o intervalo’, além da definição de responsáveis e da data de revisão, facilita o acompanhamento dos progressos.”